"No íntimo de seus corações eles empoleiraram Jesus Cristo, na forma de juíz, na cadeira mais alta do Tribunal, e, sob essa imagem, agridem e, sobretudo julgam. Julgam em seu nome. Ele dizia docemente à pecadora: "Eu também irmã. Eu não te condeno!" O que, à eles, nada impede. Eles condenam, não absolvem ninguém. Em nome do Senhor, esta é a tua pena. Senhor? Ele não pedia tanto, meu amigo. Ele queria que o amassem, nada mais. É bem verdade que há pessoas, mesmo entre os cristãos, que o amam. Mas são muito poucas. Ele havia previsto isso, aliás, tinha senso de humor. Pedra... Como sabe, o covarde, Pedro, portanto, o renega: "Não conheço este homem... Não sei o que queres dizer..." e etc. Aí vêmos como realmente ele era magistral na arte de fazer jogos com palavras: "Sobre esta pedra edificarei minha Igreja." Não se podia levar mais longe a ironia, não acha?" (Albert Camus - A Queda)