Quem dera eu pudesse explicar, para que fosse, então, compreendido.
Morte desnecessária

Hoje, um amigo me contou uma fatalidade; algo realmente trágico e triste. Um rapaz de vinte e poucos anos, que se formaria em medicina daqui à poucos meses morreu em um acidente de carro. As duas últimas coisas que ele fez foram tirar as fotos para sua formatura, e ir visitar o pai, no dia dos pais. Na volta, para fazer seu plantão no pronto socorro, bateu o carro em um caminhão, e faleceu. Este meu grande amigo, terminou dizendo: morte desnecessária.

Isto me fez pensar.

Estamos todos cientes da iminência da morte. Estamos todos datados, mas nenhum de nós sabe a data; mas sempre agimos como se a data estívesse longe, como se o fim estivesse na velhice, como se fôssemos jovens, sempre jovens, sempre imunes. Os descuidos, as más decisões, as atitudes inconsequentes são sempre respaldadas por um pensamento irracional, como se fôssemos de fato imunes às consequências. As consequências podem ser adiadas, mas dificilmente eliminadas.

Mesmo certos da morte, certos do perígo, agimos, muitas e muitas vezes como completos irracionais, completos imbecis. Quem nunca dirigiu de cara cheia? Quem nunca se achou mais valentão por estar sem o cinto? Não sei se era o caso do jovem que citei. Mas não interessa. Quem nunca colocou a própria vida, e a de terceiros, em risco por pura e completa irracionalidade? Eu já fiz isso! Diversas vezes. Muito provavelmente farei várias besteiras de novo. Não estou aqui pra botar o dedo na cara da sociedade. Estou aqui pra dizer que você não sabe se verá o mundo amanhã. Ninguém sabe.

A morte não bate na porta, ela simplesmente entra. Em todas as casas. A qualquer hora. Por isso, meu caro, não espere demais para tomar decisões importantes. Você quer ser médico? Você quer ser músico? Você quer pagar suas contas? Você quer largar o cigarro? Você precisa de um chuveiro mais quente? A pia entupiu? Acabou a margarina? FAÇA ALGUMA COISA! Mexa-se. Você não é tão jovem quanto pensa. Sua vida não é tão longa, afinal. Tome decisões. Siga adiante.

Se você quer fazer alguma coisa, a hora é essa. Se você tem algo à melhorar, faça por onde. Se você tem algum plano pendente, você sabe o que fazer. Não tenha medo de tomar decisões importantes agora; agora é a hora. Diga as pessoas que você às ama. A morte não precisa ser necessária para te calar; para sempre.
O que me atrai na música é o movimento que ela gera no ser. Em todos os cantos, em todos os povos, de todas as épocas, é possível encontrar, seja nas matinês com velhos ao som do acordeon, seja no agreste os sertanejos perseguindo o som da viola, os negros na selva ensandecidos com os tambores, os jovens, nos pubs, enérgicos como as guitarras. Me encanta o movimento que o ritmo incita no corpo, e a forma com que a melodia preenche os corações. A música arrepia a espinha do homem; também seus cabelos e sua alma.
Citações

Enquanto minha mente encontra-se em um período de abertura ao aprendizado e absorção de experiências alheias por via da leitura, e, também, um tanto quanto desinteressada em expelir, em criar, o que não deve, em todo caso, me causar alarme, afinal é assim que as coisas são, gostaria de compartilhar este magnífico trecho, que segue abaixo, do livro Cidadela de Antoine de Saint-Exupéry, que trata sobre a cura dessa doença - chamada desorientação - por intermédio do desapego material:

"Embora a experiência me tenha ensinado que se descobrem homens felizes em maior proporção nos desertos, nos mosteiros e no sacrifício do que entre os sedentários dos oásis férteis ou das ilhas ditas afortunadas, nem por isso cometi a asneira de concluir que a qualidade do alimento se opusesse à natureza da felicidade. Acontece simplesmente que, onde os bens são em maior número, oferecem-se aos homens mais possibilidades de se enganarem quanto à natureza das suas alegrias: elas, efectivamente, parecem provir das coisas, quando eles as recebem do sentido que essas coisas assumem em tal império ou em tal morada ou em tal propriedade. Para já, pode acontecer que eles, na abastança, se enganem com maior facilidade e façam circular mais vezes riquezas vãs. Como os homens do deserto ou do mosteiro não possuem nada, sabem muito bem donde lhes vêm as alegrias e é-lhes assim mais fácil salvarem a própria fonte do seu fervor."

E por fim, mas não menos revigorante, outra pequena citação:

"Não me atrai ser banqueiro, ter dinheiro. Há pessoas diferentes. Atrai-me o outro lado da vida, o outro lado do mar, alguma coisa perfeita, um dia que tenha uma manhã com muito orvalho, restos de geada… De resto, não tenho grandes projectos." (Tavares, A. R. P. 1989)

Boa noite.
Sobre o som sob o palco.

À noite, ouço, de tímpanos sóbrios,
o vazio, travestido de intensidade.
Por meio de acordes, de recheio oco,
a cópia argumenta legitimidade.