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Tenho visto a quantidade e a qualidade das minhas relações interpessoais se estreitarem drasticamente nos últimos tempos; não que eu me encomode com isso; peguei gosto por viver comigo mesmo, e aprendi o valor de ter alguns poucos e bons à minha volta. Tenho pensado, nos poucos minutos que duram o tempo de um cigarro fumado no frio, que o que acaba me afastando das pessoas, e vice-versa, é o fato de que todas se mostram como seres desprovidos de qualquer defeito. Ora, seríamos somente eu e Fernando Pessoa (à quem estou prestes à parafrasear), pessoas vís e errôneas neste mundo? Todos que vejo, andando pra lá e pra cá atarefados com suas vidas, falam como se fossem deuses do mundo; mesmo estando secretamente convíctos, que não o são nem para si mesmos. Àquele que um dia me disser, mesmo que esteja suando álcool (e talvez seja por isso que sinto-me melhor quando não estou sóbrio, mas sim levemente embriagado), que um dia já foi ingênuo, que, por uma vez que fosse, já tenha agido como um completo covarde, que já tenha sido humilhado sem saber como agir, àquele que me disser: "tenho dúvidas!", "tenho medos!", "tenho péssimos hábitos!", à este demonstrarei todo o respeito, amor e simpatia que meu coração puder demonstrar. À este serei grato, indescritivelmente grato, por me fazer sentir vivo, por afastar de mim a solidão, e estreitar, por um momento que seja, o abismo que separa o meu eu, do mundo; por me fazer sentir inocente mais uma vez, por dividir o fardo invisível, porém pesado, da existência comigo. Aos demais, aos cegamente perfeitos, aos demasiadamente convictos, aos que nunca temeram, aos que nunca se acovardaram, aos indestrutíveis, aos que jamais sentiram o gosto da queda, o cheiro do ralo, nunca viram a face da derrota; à estes pequenos espantalhos sem campo, estas raposas sem luar, à estes só posso, e não poderia ser diferente, oferecer meu desprezo, bem como este catarro amarelo que o cigarro forma nesta minha garganta obsoleta, que não cansa de gritar.
Todo ser humano tem direito à hipocrisia

Antes de ler os trechos abaixo, retirados da Declaração Universal dos Direitos Humanos, tenha em mente que hoje, dois milhões de pessoas morrerão de fome.

Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.(?)

Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.(?)

Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.(?)

Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.(?)

Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.(?)

Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição  de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.(?)

Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.(?)

Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem  os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.(?)

Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.(?)

Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.(?)

Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.(?)

Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.(?)

Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.(?)

Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle.(?)

Um salve para você, que reivindica uma sociedade justa e igualitária de dentro de uma faculdade particular, no seu notebook.
Eu tenho muito a oferecer; talvez não tanto, é verdade. Mas tenho algumas coisas boas; algumas coisas raras, sei bem. Tenho também um casco duro. Suporto a dor física com certa facilidade; reclamo do encomodo que ela traz, não da dor propriamente dita. Suporto também a dor psicológica, no sentido de que ela nunca me vence; nunca é pesada demais para carregar. Não tenho gosto por isso, pois, por vezes, me martirizo demais, é verdade, e talvez o martírio não seja o método adequado. É bem verdade também, que não tenho a memória muito boa, como já escrevi outras vezes. As pessoas não acreditam. Não as culpo. Mas me sinto mal quando estou sendo sincero, dizendo a verdade, e me julgam mentiroso. Às vezes tudo que tenho à oferecer são as palavras. É verdade que não se pode obrigar alguém à aceitá-las como verdade; são só palavras afinal. Entretanto, são só palavras somente para a outra pessoa; para mim elas são, se forem verdadeiras, a verdade. Aí eu penso: "Como diabos alguém pode estar desacreditando da verdade que eu está dizendo?" Pois é. Mas as coisas são assim mesmo. Confiança é uma dádiva que não é dada por algum deus, ou coisa que o valha. Confiança é algo que você adiquire quando deixa de lado o orgulho, e põe em prática se tiver coragem. Pois o que as pessoas tem a oferecer, ao mundo e aos outros, são elas mesmas. Confiar nelas ou não, não depende delas; elas são o que são. Confiar nelas depende, única e exclusivamente, de você.
WE'RE THE ILUSION!

"Vocês e milhões de outras pessoas estão me ouvindo nesse exato momento. E menos de 3 por cento de vós lêem livros. Menos de 15 por cento de vós lêem jornais. A única verdade que vocês conhecem é a que sai desta caixa preta. Neste preciso instante existe uma geração inteira que nunca aprendeu nada que não tivesse saído desta caixa preta! Esta caixa preta é o seu Evangelho. É sua salvação. Essa caixa preta pode criar ou remover Presidentes, Papas e Primeiros Ministros. Esta caixa preta é a maior força que existe em todo o mundo e estamos fodidos se ela cair nas mãos de pessoas erradas! E quando a as maiores corporações controlarem a maior e mais fantástica máquina de propaganda do mundo inteiro, quem saberá que merda será negociada como sendo a verdade nesta caixa! Escutem-me! Escutem-me! A Televisão não é a verdade. A Televisão é uma porcaria de um parque de diversões! ATelevisão é um circo, um Carnaval, um bando de acrobatas, contadores de histórias, dançarinos, cantores, malabaristas, encenadores de programas de mentiras, domadores de leões e jogadores de futebol. Estamos num negócio onde o que importa é enganar o aborrecimento, com entretenimento. Por isso, se querem a verdade, procurem-na. Mas procurem no interior de vós! Porque lá é o único lugar onde encontrarão realmente a verdade. Vocês nunca irão obter qualquer verdade vinda de nós. Dizemos qualquer coisa que queiram ouvir. Mentimos descaradamente… Afirmamos que o polícia apanha sempre o assassino, e que ninguém nunca sofre de câncer na novela das oito. Não importa quantos problemas o herói tenha, não se preocupe. Olhe bem para o seu relógio, passando uma hora, o herói venceu! Dizemos qualquer merda que queiram ouvir! Nós vendemos ilusões, não a verdade! Mas vocês, sentam-se à frente da televisão, dia após dia, noite após noite. De todas as idades, cores e credos. Somos tudo que vocês conhecem. Estão começando a acreditar nas ilusões que manipulamos aqui. Estão começando a acreditar que a TV é a realidade, e que as vossas próprias vidas são irreais. Fazem o que quer que seja que a caixa vos diga para fazer. Vocês vestem-se como a caixa, comem como manda a caixa, educam seus filhos como vêem na caixa, até pensam como a caixa. Isto é uma alienação em massa, seus maníacos! Pelo amor de deus, acordem! Vocês, pessoas, é que são reais! Nós somos a ilusão! Desliguem a Televisão. Desliguem já a Televisão. Desliguem e deixem-na desligada. Desliguem-na no meio desta frase que estou dizendo. Deslig... "

Trecho antológico do Filme Network (1976) de Sidney Lumet.
I'M NOT GOING TO TAKE THIS ANYMORE!
Mad as hell

"Eu não tenho que te dizer que as coisas vão mal. Todo mundo sabe que as coisas vão mal. O mundo está todo fodido. Quem não está desempregado tem medo de perder o emprego. Um real não vale mais miséria nenhuma, as empresas estão falindo, os balconistas te atendem com uma arma debaixo do balcão. A violência está à solta na rua e não há ninguém, em lugar algum, que pareça saber o que fazer; e não há fim para isso. Sabemos que o ar está impróprio para respirar e a comida imprópria para comer, e ficamos sentados vendo nossa TV, enquanto algum noticiário local diz que hoje tivemos quinze homicídios e sessenta e três crimes violentos, como se fosse assim que as coisas devessem ser. Sabemos que as coisas estão ruins - piores do que ruins. As coisas estão loucas! É como se tudo, em todo lugar, estivesse enlouquecendo. Por isso não saímos mais. Nos sentamos em casa, e lentamente vemos o nosso mundinho ficar cada vez menor, e tudo o que dizemos é: 'Por favor, pelo menos me deixe sozinho na minha sala de estar. Deixe-me aqui com a minha torradeira, minha TV e minha rodas cromadas, e não vou dizer nada. Apenas me deixe em paz.' Bem, eu não vou deixar você em paz. Eu quero que você enlouqueça! Eu não quero que você proteste, eu não quero que você faça greve, eu não quero que você escreva para o seu deputado, porque eu não saberia o que dizer para você escrever. Eu não sei o que fazer sobre o desemprego, a inflação, os traficantes e o crime nas ruas. Tudo que sei é que primeiro você tem que enlouqueçer! Você tem que dizer: 'Eu sou um ser humano, puta que pariu! Minha vida tem valor!'"

Trecho adaptado do filme Network (1976) de Sidney Lumet.
Viver é isso aí

Lá vai mais um texto vomitado, não pensado. Estilo fluxo de consciência.

Alguns fatos: Hoje, algumas crianças foram assassinadas no Rio de Janeiro dentro de uma escola. Não foi a primeira vez. Não será a última. Não gosto de ver todo mundo comentando esse tipo de coisa. Você só ficou pasmo porque ficou sabendo. Você só ficou sabendo porque notícias envolvendo morte, destruição, sangue, ruína alheia e afins, aguçam a sua curiosidade mais do que qualquer poema de amor. Antes de qualquer coisa somos animais, vivendo em sociedade por imposição, não por vontade própria. Estamos inseridos num meio altamente hostil, agressivo e competitivo; entre seres movidos pela ganância, pela violência e pelo lamento.

Algumas conclusões: Hoje o seu dia foi completamente igual ao de ontem, independente de quantas crianças morreram, você não se importa. Você ajudou a matar aquelas crianças, pois você está inserido no meio. Não foi um problema mental, ou um momento de delírio que levou aquele homem à fazer o que fez, foi o meio em que ele esteve inserido durante todos os segundos da sua vida. O meio. O modo operante do acaso levou aquelas crianças àquele lugar, aquele homem àquele lugar e aquelas pistolas àquelas mãos, naquele momento; e o mais importante, levou certas idéias, certos conceitos, certos pensamentos àquele cérebro. Quando disse que todos nós ajudamos a matar aquelas crianças não estava culpando-nos; nem estava inocentando-nos. Afinal, você não pode fazer nada quanto ao rumo que as coisas tomam, tem que deixar de ser hipócrita e ser humilde diante deste fato, então enxergará facilmente que não foi uma "crueldade", ou uma "coisa sem explicação", ou "algo absurdo" isso que aconteceu. Não foi desumano. Foi absolutamente humano. Aliás poucas coisas são tão característicamente humanas quanto assassinatos deste tipo. Ou você conhece algum outro animal que mate por prazer, ou mate para aliviar a dor, ou mate por vingança, ou simplesmente mate por matar? E não adianta dizer que eu sou sem coração, que eu sou louco, que eu sou um assassino em potencial, e a puta que pariu. O cara ficou puto e meteu bala em gente que provavelmente não queria morrer, e provavelmente não tinha nada a ver com a situação. Não interessa o que levou ele à fazer isso, se foi estupidez, se foi uma vontade de, de certa forma, se vingar da condição que a vida lhe deu. Não interessa. O cara simplesmente usou o livre arbítrio dele do jeito que ele quis. Não estou defendendo ninguém, mas também não estou acusando. Somos todos pequenas cicatrízes, pense nisso. Antes de ficar aí cochichando sobre a cagada alheia, vá viver. Pare de encher o saco. Vá tomar uma cerveja, fazer sexo com a sua namorada, jogar uma partida de boliche, ler um livro, criar um blog, não sei, qualquer coisa. Viver é isso aí.
Princesa Isabel é a pinóia

Como os bons macacos que somos, podemos ser facilmente treinados, adestrados, e mentalmente castrados, por sermos extremamente sucetíveis à qualquer tipo de informação que nos estendam aos olhos. Na sua infância você deve ter lido, em algum lugar, que, um dia, uma moça, chamada Isabel, escreveu uma carta, e, por conta disso, de uma hora para a outra a escravidão foi extinta da face da Terra... Foda. As pessoas simplesmente acreditam nas coisas que lhes são ditas, e ponto final; e algumas das pessoas que sacaram isso, não são as mesmas que gostaríamos de ter como vizinhas, se é que você me entende. O quão escravos somos todos nós, a grande massa? Temos idéia? O quão acorrentados estamos à velhas tradições, aos velhos paradigmas da sociedade, à religiões milenares, a livros sagrados, escritos por nômades do deserto? O quão enganados nos deixamos ser pelos noticiários? O quanto ficamos retardados sentados em nossos sofás assistindo aos programas dominicais? O quanto não sabemos de nada? O quanto não se importamos em não saber? Temos coragem para aceitar algumas verdades, ou continuamos brincando de faz de conta? Se as pessoas soubessem o quão escravas elas são! Para quem você trabalha? Não, não é para você, não é para o seu superior, não é para o presidente da empresa, não é pelo bem nação, não! Acredite em mim, você e eu somos iguais aos nossos irmãos africanos que foram explorados alguns anos atrás; a diferença é que seus senhores lhes davam abrigo e comida, e nós temos que pagar por ambos. Se um dia você estiver puto com a forma com que a vida se estende à sua frente, não culpe à si mesmo, não culpe a raça humana, somos seres lindos e extraordinários, mas nos deixamos corromper com pão e circo, e ficamos mansinhos. Assista o documentário Zeitgeist: Addendum e pelo menos faça o favor a si mesmo de acordar! Procure saber como é que as engrenagens giram por debaixo do carrossel.
Pfff...

Aproveitando que hoje estou me sentindo tosco, e ligeiramente bem humorado, e também aproveitando a inutilidade completa deste blog, tendo em vista coisas como estatísticas e nº de visualizações, gostaria de definir um dos males que me assolam: A ansiedade. Para mim, a ansiedade é como gostar de ler, ter uma gana inesgotável, uma sede insáciavel, por conhecimento, e ter uma necessidade prazerosa de ir fundo em uma teoria e depois tentar negá-la, de jogar dos dois lados, de ver as coisas colidirem, de aceitar a contradição, mas não conseguir ler um livro inteiro; não conseguir ler um texto longo. Ansiedade é querer dar garfadas maiores que a boca, maiores até que o próprio prato. Ansiedade não deixa que você beba pequenos goles, ela quer fazer você se babar inteiro enquanto bebe. Isso faz com que muito conhecimento se perca, passe batido pela falta de calma, pela impaciência. A ansiedade te impulsiona pra frente, mas descontroladamente; e isso te aborrece. Em termos práticos, porém igualmente incompreensíveis, a ansiedade é como um macaco louco da floresta, enjaulado em um lugar apertado e sem bananas.
Obrigado.