Sólo una escena (1)

"No céu ainda não se encandecia a aurora, mas a noite já se alongava à horas, e logo rebentaria em dia. O calor dos prédios e da rua pesava no ar, que pressionava-me a face  fazendo-a ficar oleosa e cansada. O calor da noite é diferente do calor do dia. Não é mais o mero calor do Sol. É o bafo; o mormaço de tudo que se aqueceu, seja de pedra ou seja de carne, durante o dia, e depois de absorver tudo que não lhe convinha, agora exala os requícios de fadiga em forma de fagulhas de calor no ar. Qualquer um pode perceber o cansaço e a revolta que há estampada no clima noturno; em especial no verão latino. E eu andava pela citadela, mantendo-me atento aos bezouros que confundiam minha testa reluzante com a luz de qualquer poste; tão iludidos quanto todos nós. E também mantinha-me atendo aos gatos, e ao som das sacolas que estes reviravam às minhas costas, procurando qualquer coisa que lhes preenchessem o estômago e o tempo; qualquer coisa que lhes canssassem e os levassem à exaustão, até que o sono os levasse embora por algumas horas; cedo ou tarde o Inverno chegaria, e isso era tudo o que sabiam; tão desamparados quanto nós."
Não dispedice mais a rubricidade do seu sangue em obras que não são suas. Você está perdendo o controle de si mesmo, e isso não pode estar certo. Está se sentindo cansado, mas sabe que não é cansaço, é o medo da afronta. Não permita que a sua vitalidade seja despejada pelo chão tal como àquela água do tanque, suja, que os velhos usam para escoar as pelotas de cocô dos gatos aríscos, que driblam todos os dias estas madrugadas cretinas! É um pecado contra a natureza e o curso perfeito que o acaso traça. Seja forte, homem... Seja forte!
O Imperfeito

Não importa quantas Babilônias um homem sozinho tenha construído em sua vida, ou na vida de outrém, ou ainda na vida com outrém.
Não importa.
O passado resiste apenas na memória.
No coração dos homens mora o presente;
Mora a intensidade do momento;
A emoção recém aflorada do instinto;
E só!
Somente isto.
Se, depois de ter erguido imensos castelos de pedra e aço, um homem deixar ruir um pequeno castelo de areia numa praia suja qualquer, será por essa última obra que será lembrado.
E assim o momento se mostra, mais uma vez, como sendo a eternidade;


Não importarão quantos beijos foram dados; 
Quantos lençóis já ficaram molhados de suor;
Quantos cabelos já se soltaram nas suas mãos;
Nem quantos palavras foram ditas;
Nem quais palavras já tenham sido ditas;
Importará apenas a sua ultima palavra, o seu ultimo ato.
Este, que no momento me define como sou:
O imperfeito.