Tornearia




















Fosse parte integrante
Dos que nunca pestanejam,
Não seria petulante
Permitir que entrevejam
A maneira cordial,
Sem apelo canibal,
Com que olhos arregalas,
E que as moças encurralas.

Não tem jeito que estilhaça,
Nem presença que ameaça.
Mas há quem se satisfaça.
Até quem se liquefaça!

Não se faz só vergalhão
Dentro da tornearia.
Também se faz corrimão
Pra pegar na mão macia.
Seria atrevimento
Passar de divertimento?
Qual a altura da queda
De um amor que se veda?

Coração não é enfeite.
É bom que logo se aceite.
Quando vier, espreite; Suspeite.
Mas quando tiver, respeite.

Espaço















A brisa fresca, no inferno da tarde.
O beijo morno, na noite estúpida.
"Ah, um café! Ah, um cigarro! Ah, um feriado!"

Se se alegras num instante ameno,
Que dia penoso há de surgir no horizonte!
Quanta cinza ainda vai aspirar.

Se ao menos pudesse me deleitar plenamente na ilusão.
Olhar na cara do vazio e não ter náuseas.
Mas sempre há esse som...
O som do vento! Só do vento...
Dizendo: "Vês? Não há nada!"