Mãos

Mãos cheirando à tijolo.
Mãos pintadas;
ora cinzentas, ora alaranjadas.
Olhos que contam histórias.
Contam uma só história.
A mesma história;
não menos bela por isso.
Bela por ser dura e, mesmo assim,
continuar sendo bela.
Lágrimas; de olhos que ardem de cal.
Suor; da pele que arde no sol.
Mas tudo com gosto de mar.
De oceano; que jamais vira.
Águas que lhe escorriam na face
e misturavam-se ao pó
acimentando-lhe a cara.
As rugas negas, e as barbas brancas.
Em casa tinha a rede,
tinha água; sabao.
Tinha a mulher que lhe esperava.
Tinha uma sandália de couro.
Tinha pão e café.
Tinha um jornal.
E tinha alguns anos ainda
pra tirar com a pá do carrinho de mão
e atirar contra a parede
cada dia com menos força.