Esvoaçar
  
Ei, moço do giz
do jaleco?
do apagador?
É, o senhor! Por favor,
sou criança,
não me aborreça,
não me enlouqueça.
 
Me deixe ser antes que,
assim,
como você,
eu me esqueça.
Me solte, de pincel na mão
não pregue minhas asas no chão.
 
Pinta, tinta;
leve, voa.
Pinga, pinga;
escorre, assoa.
E assovia quando ver
o passarinho que quer ser.
 
Voar!
Que não seja o que me dizem que é,
que de impossível já me basta ser pra sempre;
coisa de gente, que mente, mente, mente;
inteligente que não sente, sente, sente
me passa o pente, mãe, que eu eu cresci,
e cabelo, como eu, tem que estar no lugar.
 
E agora,
que o vento já não sopra mais?
Crescer é viver, não sonhar.
É pentear, e, não mais,
deixar esvoaçar.