Degradê

Quem me fala sou eu, que converso comigo;
eu, meu amigo, do silêncio no ouvido.
Fala sem pudor, sem o muro da língua,
onde esbarra, por vezes, a verdade sucinta
que, à mim, acenta, e acalenta, 
mas que no ouvido d'outro dói,
e lateja atrás dos tímpanos;
por mais que não seja mentira,
vira
completa ziquizira.

Quem me dera saber se, algum dia, alguém
vai saber o que eu sei, mas não disse à ninguém.
Saberão, ao menos, da moça dos olhos degradê
Nos quais perdi passados
e achei futuros; com muito gosto.
Procurei. E quem diria?
Eu que, em mim, e comigo, pensei,
rezei e esperei, escondido me achei
onde não pensava estar:
Nos olhos de alguém; que não era eu.