Sonho é destino – Parte XII

- Dissolve-se em partículas ligeiras que giram. Ora me movo rapidamente, ora o tempo o faz. Nunca os dois simultaneamente. É um estranho paradoxo. Estou mais perto do fim da minha vida do que jamais estive, mas sinto, mais do que nunca, que tenho todo o tempo do mundo. Quando era mais jovem, havia necessidade de certeza. Eu precisava chegar ao fim do caminho.
- Sei o que quer dizer. Eu me lembro que pensava: "Um dia, aos 30 e poucos anos, talvez tudo irá, de algum modo, se acomodar, parar. Simplesmente acabar." É como se houvesse um platô me esperando. Eu estava escalando. Quando eu chegasse ao topo, todo crescimento e toda mudança parariam. Até a excitação cessaria. Mas isso não aconteceu, ainda bem.
- Na juventude, não levamos em conta a nossa curiosidade. Isso é que é incrível de sermos humanos. Sabe o que Benedict Anderson diz sobre a identidade? Ele fala sobre, digamos, uma foto de bebê. Você pega uma imagem bidimensional e diz: "Sou eu". Para ligar o bebê dessa imagem estranha a você, no presente, é preciso criar uma história. "Esta sou eu quando tinha 1 ano. Depois, tive cabelos compridos, e depois nos mudamos para Riverdale, e aqui estou." Então, a história necessária é, na verdade, uma ficção, para tornar você e o bebê idênticos. Para criar sua identidade.
- O engraçado é que nossas células se regeneram totalmente a cada sete anos.Já fomos várias pessoas diferentes. E, no entanto, sempre permanecemos sendo, em essência, nós mesmos.

Fonte: Waking Life (2001)