Entre um copo de café amargo e metade de um cigarro, com o olhar perdido, focando ora o calendário, ora a rachadura na parede, a gente acaba pensando sobre as coisas. Parece que a cabeça, por si só, joga uns assuntos na mesa pra que você os vasculhe, e pense a respeito. E são assuntos de extrema importância eu diria. Como esse negócio de as pessoas preferirem sempre o Verão, ou o Inverno. Tem ainda os que admiram a beleza das flores na Primavera e tudo mais. Geralmente são pessoas que não sofrem de renite alérgica. Mas eu prefiro o Outono. Porque não tem nada no Outono. Nem frio, nem calor, nem renite. Ninguém nunca nem lembra do Outono. As pessoas só lembram do Outono quando pedem pra elas quais as quatro estações do ano. Só que mesmo assim, o Outono é sempre o último a ser lembrado. Com toda a certaza a maioria das pessoas diria Verão, Inverno, Primavera e, aí sim, Outono. Mais ninguém nem sabe quando é que começa ou termina o Outono. Tenho certeza disso, ninguém sabe essas coisas. E é por isso que eu gosto do Outono. Ele está sempre por aí. A cada maldito ano, sempre no mesmo lugar, do mesmo jeito, na mesma quantidade de tempo que as outras estações. Mas não há um infeliz nesse planeta que se lembre o que fez no Outono! Meu paraíso artificial é, definitivamente, o Outono. É como se ele fosse o ponto cego no ano. Não tem nada no Outono. Dá pra acreditar num troço desses? Nada!
Ah! O Outono! A história da minha vida!