06 de Junho, 1990

Pedro, querido amigo, desculpe pelo susto se é que foi você que me achou assim. Não dava mais! Não podia subir ao terraço ou coisa assim. Avise minha mãe, por favor, e entregue isso a ela.

Mãe, faz tempo que não te peço nada, e só peço agora porque sem a senhora não conseguirei fazer sozinho, dê tudo que é meu, o plástico e a carne, por favor, eu suplico por isso! O resto mande cremar. POR FAVOR! REALMENTE SUPLICO A SENHORA!
Não consigo viver assim, sabendo o que fazer, como fazer, me compreendendo tão a fundo como estava me compreendendo e mesmo assim não conseguindo tomar uma atitude que valha. Diga a Janete que se nunca quis ficar com ela foi porque, de certa fora, sabia que isso uma hora ou outra ia me acontecer, mas diga que sempre soube e chorei por não poder aceitar o seu amor. Minha cabeça estava me levando longe demais, longe! Eu não podia suportar esse tipo de cadeia que eu vivia até dentro de mim mesmo, imagina então fora. Sabe que sempre fui movido a sentimentos e sensações. Estava no fundo!
Sei que se Deus, seja lá como se compreenda a idéia de 'deus', tem tamanha misericórdia e é justo como dizem, ele é provavelmente a 'pessoa' mais de acordo com esse ato que tomei.
Por favor, não chore, pois se em algum momento pensei em desistir disso foi de imaginar a senhora chorando mãe, não faça isso! Eu te amo! Vou estar no colo de algum Anjo, ou coisa que o valha, e ele vai me abraçar eternamente, um abraço sem intenções ou malícias, ou buscando um jeito de tirar proveito da bondade, só um abraço silencioso e sincero. Acredite nisso, como acredito!

Um beijo feito só de AMOR! Que é tudo o que sempre levei trancafiado comigo ...

Carlos