À sua companhia

Estava frio, o que o deixava muito feliz e o fazia sentir-se como se tudo estivesse mais bonito e passasse em câmera lenta, o que julgava ser uma boa coisa. Sentia-se bem, embora não demonstrasse. Ela estava impecavelmente linda, como sempre, e o esperava na sala, ocupada com ela mesma, o que ele achava um charme às vezes, sobretudo nas estaçõs frias. Saíram juntos, mãos dadas, trocando sorrisos entre um olhar ou outro, conversaram sobre os assuntos banais do dia-a-dia de ambos. O carro rodou sob as nuvens, pouca gente nas ruas; era de fato um dia exuberante por todos estes pequenos detalhes, que o faziam sentir-se bem em relação ao dia e as coisas todas. Andaram a pé pelas ruas, tomaram cafés de qualidade duvidosa em cafeterias, leram sinopses, de cult à terror, em locadoras, opinaram sobre os maniquins na vitrine de lojas caras e andaram; braços dados, beijos suaves no vento frio que rasgava a tarde. Eram felizes como poucos, julgava ele; por estes pequenos detalhes que o faziam sentir-se bem, como já disse. Ela era a musa, a leoa, a fêmea a ser amada e protegida. Ele o leão de chácara, carrancudo ao longe, mas doce ao pé do ouvido dela. Ela sempre será a mais ativa, a mais radiantemente alegre, linda que só. E ele sempre será o introspectivo, o aprendiz, aquele que observa, estuda. Ela sempre será a bela, a que incita inspiração. E ele será sempre o inspirado, o apaixonado. Que assim seja. Pois se a vida for como fora esta tarde, será boa.