Sólo una escena (1)

"No céu ainda não se encandecia a aurora, mas a noite já se alongava à horas, e logo rebentaria em dia. O calor dos prédios e da rua pesava no ar, que pressionava-me a face  fazendo-a ficar oleosa e cansada. O calor da noite é diferente do calor do dia. Não é mais o mero calor do Sol. É o bafo; o mormaço de tudo que se aqueceu, seja de pedra ou seja de carne, durante o dia, e depois de absorver tudo que não lhe convinha, agora exala os requícios de fadiga em forma de fagulhas de calor no ar. Qualquer um pode perceber o cansaço e a revolta que há estampada no clima noturno; em especial no verão latino. E eu andava pela citadela, mantendo-me atento aos bezouros que confundiam minha testa reluzante com a luz de qualquer poste; tão iludidos quanto todos nós. E também mantinha-me atendo aos gatos, e ao som das sacolas que estes reviravam às minhas costas, procurando qualquer coisa que lhes preenchessem o estômago e o tempo; qualquer coisa que lhes canssassem e os levassem à exaustão, até que o sono os levasse embora por algumas horas; cedo ou tarde o Inverno chegaria, e isso era tudo o que sabiam; tão desamparados quanto nós."