- Porque você me chamou aqui, afinal?
- Olha só, eu só estava pensando em talvez tomar um café e ficar em silêncio com você um pouco.
- E de quê nos adianta isso?
- De nada, ora! Apenas gosto de ter você aqui um pouco.
O silêncio dá as caras por alguns segundos.
- Qual é a sensação de saber que ninguém precisa de você?
- Você tem um cigarro? O meu acabou ...
- Sim, claro!
Ela tira um cigarro amassado do maço e entrega-o a ele, que demora um pouco para reagir. Depois de alguns segundos estático ele pega o cigarro e o coloca na boca.
- Ah, sim! Obrigado!
Ele acende o cigarro e retoma a conversa, enquanto o cigarro balança na boca.
- O que era mesmo que você queria saber?
- Qual é a sensação de saber que ninguém precisa de você?
- Não sei... Não tenho essa 'sensação'.
- Ontem mesmo você disse que sabe que ninguém precisa de você.
- Ah, sim! Mas isso não quer dizer que me cause algum tipo de sensação. Certo?
O silêncio retorna, agradável.
- Não faz essa cara!
- Que cara?
- Essa!
- O que tem a minha cara?
- Eu, sinceramente, não consigo entender você.
- E porque diabos você tem essa mania de querer entender as coisas? Você é engraçada!
- Não sei, ora. Só queria saber o que se passa aí dentro.
- Nada de mais, só quero tomar um café e ficar em silêncio com você.
Ela se cala.
Ele se cala.
O silêncio é auto-explicativo.