Diário

Hoje, no acostamento, sentado nessa pedra de gelo que é a noite, enquanto fingia estar sendo observado ao mesmo tempo que via a cidade dormir por de trás da fumaça do cigarro, percebi, mais uma vez, daquele mesmo jeito natural, porém surreal, das outras vezes, que dispensam as palavras  apenas porquê não existem palavras pra descrevê-lo, que a vida é feita de detalhes tão simples e pequenos que beiram o ridículo, mas que, juntos, moldam grandes momentos. Estava realmente pronto para viver intensamente esta noite, mas voltei pra casa e dormi; amanhã é outro dia, e espero ansiosamente (só eu sei como espero ansiosamente por isso) que eu acorde tão lúcido quanto estava ao dormir, sobre a forma com que o acaso escreve essa nossa pequena frase, que é a nossa vida, e sabe encaixá-la da forma mais poética possível nesse texto maior que ninguém, nunca, lerá.