Todos, sempre que uma mísera ameaça de julgamento se aproxime, consideramo-nos inocentes, e formulamos, em segundos, pencas de argumentos que nos defendam, deixando, assim, o bem estar do nosso ego, imune. Pois bem, talvez sejamos mesmo, todos, bons demais para estarmos neste mundo de aparência/julgamento. Ou, talvez, sejamos apenas uns fracos, preguiçosos, sem nenhum talento ou virtude saliente. Cabe a cada um escolher o ponto de vista que melhor irá se adequar ao seu estado psicológico no momento em que faz a leitura deste texto. De minha parte, não importa quem eu sou de fato, pois por mais podre que eu possa ser, sei que todos também são, ou foram, ou serão em alguma parte de suas vidas. Muito podres. Meus pais morrerão sem que eu saiba com exatidão a data dos seus aniversários. Sem que eu saiba suas idades, sem que eu diga a eles “bom dia”, ou “boa noite”, ou “seu frango estava ótimo, mãe”, ou “obrigado pelo conselho, pai.” Isso é uma das coisas pelas quais posso ser considerado asqueroso. E eu sei muito bem disso. Eu larguei duas faculdades, unica e exclusivamente, por preguiça e desinteresse. Duas características nada exóticas da raça humana. Cansei de inventar mentiras para os outros sobre os porquês que me indagavam, e acabar por acreditar em algumas delas. Eu realmente me sinto como um gigante poço de conhecimentos obscuros sobre os seres e o mundo, pronto para lhe dizer o quanto as coisas são de mentira, e como são podres. E, muitas vezes, estou enganado. Quantas horas eu passei no meu quarto fugindo da forçosa interação familiar? Quantos amigos foram ficando, lentamente, para trás, devido ao meu total descaso? Quantos sobraram? Sete. Que tipo de mundo é esse? Onde sofremos com tudo na mão. Onde sonhamos com grandiosas futilidades. Onde blogamos sobre o asco do mundo e depois nos deleitamos em jogos de baralho e bebidas baratas. Macacos de tênis, é o que somos.
Obs.: Texto arquivado sem publicação à dezenas de meses.