Estou perdido.
Mas ainda lúcido.
Talvez me veja perdido por estar lúcido.
Minha identidade foi construída ao acaso,
aos tropeços dos anos.
Mas sempre um algo aquém da minha essência.
Sempre uma máscara esculpida ao sabor dos afetos;
ao sabor dos encontros e desencontros com o mundo;
sempre se moldando com inacreditável flexibilidade;
sempre passivamente aceitando o formato que a vida
ao menos parecia
impor.
resultando numa careta torta; um estorvo na cara.
A carcaça, o peso, essa carniça que me fede nos ombros
sou eu
Um eu que não é, que nunca foi e que nunca poderia ter sido
Mas que parecia um eu aceitável, um eu digno, um eu...
Um eu mais fácil de engolir.
Talvez pros outros, e pro mundo, e pros valores do mundo.
Mas pra mim, pra mim nunca desceu.
Ao silêncio possível da noite urbana,
ao fechar das cortinas, ao abrir de um livro
Meu íntimo suplica pela sua aurora.